segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul

Povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul
Mª. Margarida Nunes da Rosa
De acordo com a palestra da historiadora Vera Lucia Maciel Barroso (25/10/2010), na Colônia do Sacramento, em 1680 começa a chegar açorianos no Cone sul. Pois aqui no Brasil havia muita riqueza. A coroa portuguesa quer para si esse pedaço de terra. Isso justifica a vinda dos açorianos para cá.
Os ilhéus chegaram a um Brasil de produção escravista, no qual a economia está localizada no sudeste e no nordeste. Sendo que, o Brasil precisa de transporte eficaz. O que no Rio grande do sul começa a ser encorpado. Nesta época (1700 Ciclo do ouro e Troperismo) não tem açorianos, mas os sem trabalho. Ou seja, os ilhéus que aqui chegavam tinham que trabalhar ilhado por terra e não mais pelo mar.
De acordo com Lílian Argentina (1989):
A colonização portuguesa efetivou-se a partir de 1737 com a fundação do Presídio de Rio Grande. Os colonos estabeleceram-se na Estância Real de Bojuru, situada, aproximadamente, a 80 km do canal de Rio Grande. Os colonos portugueses habituados às lides do campo e lavoura aqui prosseguiram nesta atividade, plantando e colhendo o que se consumia na estância, igualmente, no Forte Jesus, Maria e José. (p16).
Estes colonos têm como meta a defesa deste território. Sendo que em 1750 com o tratado de Madri o solo sul-rio-grandense foi ocupado por açorianos para defenderem os interesses da coroa portuguesa na região das missões. Neste período há uma conjuntura de crises. Nas ilhas dos Açores há açorianos sobrando, e aqui no Brasil surge a Crise do Ouro.
Os açorianos vindos para cá vivenciam muitas guerras em defesa deste território, entre elas, a Guerra Guaranítica, na qual, os indígenas defendem suas terras dos espanhóis e dos açorianos. Nesta ocasião os espanhóis e açorianos se juntam para acabar com a guerra dos indígenas, na qual morre Sepé de Araújo.
Foram feitos alguns acordos e desacordos entre os portugueses e espanhóis. Sendo que os açorianos foram se arranchando em diferentes pontos estratégicos para defesa de terras, as quais pensavam ser deles. Mas, que eram da coroa portuguesa. Pois os ilhéus não tinham a posse da terra. Com isso, muitos se fixaram em núcleos portugueses já existentes no sul-rio-grandense, como em Santo Antônio da Patrulha, Conceição do Arroio (Osório), Viamão, entre outros municípios gaúchos.
No século XIX, com o tratado de badajós os ilhéus vêm por de Trás dos Montes, entrando no Rio Grande do Sul por Santa Catarina. Alguns vieram nas levas de casais de número e outros por conta própria. Nas chamadas emigrações clandestinas.
Conforme José Guilherme Reis Leite (1989), “poderemos afirmar que é a emigração clandestina, com toda a sua problemática, que marca mais profundamente e mais significativamente a história da emigração açoriana para o Brasil, no séc. XIX.”.
Certamente se faz necessário um estudo historiográfico mais aprofundado acerca destas emigrações a fim de se obter as causas concretas que levaram o povo açoriano a este ato.
Mas, pode-se dizer de acordo com o autor acima citado que: “emigrar é ir em busca de uma nova vida, na esperança de a melhorar e sem contar com especiais apoios ou benesses do Estado”, caracterizando-se como “um fenômeno típico do séc. XIX”, o qual é “consequência das grandes transformações sociais e econômicas da história contemporânea e do lançamento da sociedade capitalista e urbana da Europa Ocidental”. (p.55).
A presença açoriana torna-se um marco muito forte em todos os aspectos culturais do Rio Grande do Sul. Dentre os quais, destacam-se “as casa de modelo porta e janela, a roca de tear, bordados, [..] guardanapos de papel recortado”. (Marques, 1989, p.16).
Observam-se marcas da presença açoriana no povoamento sul-rio-grandense por meio da arquitetura presente no Patrimônio Histórico Cultural preservado em alguns municípios, tais como: Santo Antônio da Patrulha, com o casario da Avenida Borges de Medeiros; Gravataí com a Casa dos Açores entre outros Prédios; Rio Pardo, Mostarda, Viamão, etc.
Estes municípios, além do casario têm preservado alguns costumes referentes aos folguedos e religiosidade, tais como: as canções, brincadeiras, danças, cavalhadas, festa do Divino, provérbios, histórias...
Enfim, os açorianos estão presentes nas raízes do povoamento do Rio Grande do Sul de forma significativa nos diferentes municípios, para onde migraram em dispersão, formando “fronteira viva” (Barroso 25/10/2010).
Quem de nós não possui lembranças ou hábitos que reportam a cultura açoriana? Lembranças estas como da matança de porcos para obtenção da carne dos embutidos e da banha para alimentação familiar; das cantigas de roda e/ou brincadeiras da infância que faziam fluir o imaginário, entre outras tantas.

REFERÊNCIAS
BARROSO, Vera Lucia Maciel. Professora Doutora da FAPA (Faculdade Porto-Alegrense) e Historiadora do Centro Histórico-Cultural Santa Casa de Porto Alegre. Av. Dês. André da Rocha, 67/91 – 90.050-161 Porto Alegre/RS. Artigo: Os Açorianos no Rio Grande do Sul.
LEITE, José Guilherme Reis. Emigração Clandestina dos Açores para o Brasil no séc.XIX. In: Revista de Cultura Açoriana. Lisboa, Ano I, nº1, 1989, p.53 – 64.
MARQUES, Lílian Argentina B. e Outros. Rio Grande do Sul: Aspectos do Folclore. Porto Alegre, Martins Livreiro Ed., 1989. 178p. Ilustradas.





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