segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cantigas do povo dos Açores

CANTIGAS DO POVO DOS AÇORES

    Acerca da canção popular Dias (1981) diz que:





...a nossa canção popular diferencia-se da continental, mantendo-se inconfundível. Ao      longo dos séculos, criamos um patrimônio musical que nos identifica na nossa posição atlântica; um patrimônio que importa defender e estimular, porque nessa defesa e nesse estímulo estarão envolvidos sentimentos de um povo que tem sabido manter-se na imensa verdade da sua vida. (p.21).
    Vida de um povo que vive no isolamento devido à posição em que se encontram as nove ilhas, e também, as variáveis circunstâncias por mudanças climáticas que ocorrem nos Açores. Os açorianos são um povo que têm a sua volta o mar. E este é o diferencial entre os açorianos que para cá vieram. Pois, aqui eles ficaram ilhados por terra.
    Sabe-se que o povo açoriano "tem sua maneira de cantar e dançar" Dias (1981, p.23). Nas nove ilhas podem ser identificados pelo idioma. Todos falam a mesma língua e também têm "costumes afins" (ibidem). No entanto, no que diz respeito aos "seus folguedos, cada ilha pratica e interpreta a seu modo" (ibidem). Mesmo que esses tenham nomes iguais e melodias semelhantes, como por exemplo, no "Pézinho", o qual é cantado diferentemente em cada ilha. O "Pézinho" é de origem açoriana. E é preservado aqui no sul-rio-grandense.
    A herança cultural açoriana, presente no nosso meio vem, perpassando as gerações nas cantigas de roda, nas cantigas de ninar (da mãe que acalenta seu filho), entre outras, das quais vivenciamos nas brincadeiras infantis nos pátios de casa e ou nos pátios escolares na hora do recreio.
    De acordo com Dias (1981):
A canção popular  açoriana nasceu do amor e do trabalho. A mãe para acalentar o filho criou uma canção, para cuidar dos afazeres criou uma outra como distração. O homem nas suas diferentes funções criou canções para cada uma delas. No entanto, essas canções que o povo dos Açores cantou e balhou desde que se instalou nas ilhas sofreram alterações significativas, de tal modo que lhes é possível reconhecer apenas o nome. Outras se foram criando ao ponto de se constituirem hoje um todo musical com características próprias. Nelas transparece, em toda asua plenitude, a alma da gente açoriana. (p.24).
    De acordo com Cesar das Neves, no I volume Cancioneiro de Musi Popular, "o Pézinho nos Açores veio do Continente". A letra que está descrita a seguir era usada pelas crianças nas suas diversões.



Ponha aqui, ponha aqui o seu pézinho
Ponha aqui, ponha aqui ao pé do meu
Ao tirar, ao tirar o seu pézinho
Um abraço, um abraço lhe dou eu.  Na coreografia desta música as crianças açorianas brincavam e abraçavam-se no final da letra sem maldade(Dias, 1981, p.309 e310).
    A letra do Pézinho acima referida está um pouco diferenciada do Pézinho aqui do Sul, o qual é preservado nas danças tradicionalistas desta região do Brasil. E também se pode observar que em cada ilha ele tem característica própria para ser balhado.
   Conforme Dias (1981) diz:
É inadiável a preservação do folclore musical da região. Conservá-lo na plenitude de sua ação recreativa e criadora de nossa gente, como inestimável patrimônio coletivo seria um valioso serviço prestado à comunidade. Porque é também, sobretudo, através do folclore que se identifica um povo. (p.642).
    Assim sendo, a escola tem papel importantíssimo na preservação da identidade infantil por intervenção de brinquedos e brincadeiras que resgatem essa herança cultural da lúdica açoriana.

REFERÊNCIAS
DIAS, Tenente Francisco José. Cantigas do Povo dos A çores. Instituto Açoriano de Cultura. Angra do Heroísmo,1981.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Magnólia

Casa dos Açores do Rio Grande do Sul

Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do sul

        No dia 08-11-2010 o grupo de alunos do Curso Açores e Açorianos no Rio Grande do Sul foi a Gravataí para mais uma aula. Desta vez o  assunto era sobre a Lúdica Açoriana no Circuito Urbano de Gravataí. num primeiro momento  obtvemos uma breve apresentação da história da Casa dos Açores em visita aos seus comododos acompanhados (as)pelo professor Régis.
       A Casa dos Açores do Rio Grande do Sul está localizada em Gravataí -Rs. Ela foi construida por açorianos em 1877. O local, no qual está lotada era Área Rural do Município.  Localizada estrategicamente num ponto alto da cidade, local de passagem para os tropeiros por estar próxima a rota para Santo Antônio da Patrulha.
      Em 2003 a casa foi "doada" para o grupo Açores por 99 anos. Como ela estava em estado de abandono foi restaurada mantendo a sua forma original... 
      Na visita à Casa chamou-me a atenção pela sua exuberante beleza a ávore denominada de Magnólia, assim como, uma carreta (carro de bois) de quatro rodas que remeteu-me as lembranças da infância.
       Num outro momento ouvimos as professoras Célia e Evanir que palestraram sobre a Lúdica Açoriana no Ensino das Séries Iniciais. momento este muito significativo por abordar brinquedos e brincadeiras que conhecemos, mas que não tinhamos conhecimento da suas origem. estas brincadeiras podem e devem ser preservadas. Sendo a escola um meio mais favorável porque a criança aceita com mais facilidade o que a professora ensina.
       Oportunizar este conhecimento às crianças das séries iniciais por meio de brinquedos e brincadeiras em projetos pedagógicos já é uma pratica exercida em escolas aqui do Município de Santo Antônio. Cabe-nos enquanto educadores levar estas atividades lúdicas à sala de aula traçando paralelos dos Açores com a nossa realidade aqui.
        Algumas brincadeiras de origem açoriana:
        Cantigas de roda;
        Jogo do Homem (traçado da  figura humana riscada no chão e se pulava sobre esse traçado com um pé só, atirando-se antes uma pedrinha (caco) para ser juntado enquanto o jogador está pulando) = Amarelinha/sapata;
        Passa Passarás; 
        O meu belo castelo;
        Brinquedos Populares: Pião, petecae biboque... eram confeccionados na família.
        Estes brinquedos e brincadeiras com o tempo foram perdendo espaço devido aos brinquedos industrializados. Mas, no contexto atual em que se trabalha com os alunos as questões de preservação do Meio Ambiente, que tal levarmos a sala de aula uma proposta pedagógica de preservar os brinquedos e brincadeiras produzindo com os alunos brinquedos utilizando sucatas? 
        Assim, estariamos preservando a cultura açoriana e o Meio Ambiente de forma lúdica.
     

Povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul

Povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul
Mª. Margarida Nunes da Rosa
De acordo com a palestra da historiadora Vera Lucia Maciel Barroso (25/10/2010), na Colônia do Sacramento, em 1680 começa a chegar açorianos no Cone sul. Pois aqui no Brasil havia muita riqueza. A coroa portuguesa quer para si esse pedaço de terra. Isso justifica a vinda dos açorianos para cá.
Os ilhéus chegaram a um Brasil de produção escravista, no qual a economia está localizada no sudeste e no nordeste. Sendo que, o Brasil precisa de transporte eficaz. O que no Rio grande do sul começa a ser encorpado. Nesta época (1700 Ciclo do ouro e Troperismo) não tem açorianos, mas os sem trabalho. Ou seja, os ilhéus que aqui chegavam tinham que trabalhar ilhado por terra e não mais pelo mar.
De acordo com Lílian Argentina (1989):
A colonização portuguesa efetivou-se a partir de 1737 com a fundação do Presídio de Rio Grande. Os colonos estabeleceram-se na Estância Real de Bojuru, situada, aproximadamente, a 80 km do canal de Rio Grande. Os colonos portugueses habituados às lides do campo e lavoura aqui prosseguiram nesta atividade, plantando e colhendo o que se consumia na estância, igualmente, no Forte Jesus, Maria e José. (p16).
Estes colonos têm como meta a defesa deste território. Sendo que em 1750 com o tratado de Madri o solo sul-rio-grandense foi ocupado por açorianos para defenderem os interesses da coroa portuguesa na região das missões. Neste período há uma conjuntura de crises. Nas ilhas dos Açores há açorianos sobrando, e aqui no Brasil surge a Crise do Ouro.
Os açorianos vindos para cá vivenciam muitas guerras em defesa deste território, entre elas, a Guerra Guaranítica, na qual, os indígenas defendem suas terras dos espanhóis e dos açorianos. Nesta ocasião os espanhóis e açorianos se juntam para acabar com a guerra dos indígenas, na qual morre Sepé de Araújo.
Foram feitos alguns acordos e desacordos entre os portugueses e espanhóis. Sendo que os açorianos foram se arranchando em diferentes pontos estratégicos para defesa de terras, as quais pensavam ser deles. Mas, que eram da coroa portuguesa. Pois os ilhéus não tinham a posse da terra. Com isso, muitos se fixaram em núcleos portugueses já existentes no sul-rio-grandense, como em Santo Antônio da Patrulha, Conceição do Arroio (Osório), Viamão, entre outros municípios gaúchos.
No século XIX, com o tratado de badajós os ilhéus vêm por de Trás dos Montes, entrando no Rio Grande do Sul por Santa Catarina. Alguns vieram nas levas de casais de número e outros por conta própria. Nas chamadas emigrações clandestinas.
Conforme José Guilherme Reis Leite (1989), “poderemos afirmar que é a emigração clandestina, com toda a sua problemática, que marca mais profundamente e mais significativamente a história da emigração açoriana para o Brasil, no séc. XIX.”.
Certamente se faz necessário um estudo historiográfico mais aprofundado acerca destas emigrações a fim de se obter as causas concretas que levaram o povo açoriano a este ato.
Mas, pode-se dizer de acordo com o autor acima citado que: “emigrar é ir em busca de uma nova vida, na esperança de a melhorar e sem contar com especiais apoios ou benesses do Estado”, caracterizando-se como “um fenômeno típico do séc. XIX”, o qual é “consequência das grandes transformações sociais e econômicas da história contemporânea e do lançamento da sociedade capitalista e urbana da Europa Ocidental”. (p.55).
A presença açoriana torna-se um marco muito forte em todos os aspectos culturais do Rio Grande do Sul. Dentre os quais, destacam-se “as casa de modelo porta e janela, a roca de tear, bordados, [..] guardanapos de papel recortado”. (Marques, 1989, p.16).
Observam-se marcas da presença açoriana no povoamento sul-rio-grandense por meio da arquitetura presente no Patrimônio Histórico Cultural preservado em alguns municípios, tais como: Santo Antônio da Patrulha, com o casario da Avenida Borges de Medeiros; Gravataí com a Casa dos Açores entre outros Prédios; Rio Pardo, Mostarda, Viamão, etc.
Estes municípios, além do casario têm preservado alguns costumes referentes aos folguedos e religiosidade, tais como: as canções, brincadeiras, danças, cavalhadas, festa do Divino, provérbios, histórias...
Enfim, os açorianos estão presentes nas raízes do povoamento do Rio Grande do Sul de forma significativa nos diferentes municípios, para onde migraram em dispersão, formando “fronteira viva” (Barroso 25/10/2010).
Quem de nós não possui lembranças ou hábitos que reportam a cultura açoriana? Lembranças estas como da matança de porcos para obtenção da carne dos embutidos e da banha para alimentação familiar; das cantigas de roda e/ou brincadeiras da infância que faziam fluir o imaginário, entre outras tantas.

REFERÊNCIAS
BARROSO, Vera Lucia Maciel. Professora Doutora da FAPA (Faculdade Porto-Alegrense) e Historiadora do Centro Histórico-Cultural Santa Casa de Porto Alegre. Av. Dês. André da Rocha, 67/91 – 90.050-161 Porto Alegre/RS. Artigo: Os Açorianos no Rio Grande do Sul.
LEITE, José Guilherme Reis. Emigração Clandestina dos Açores para o Brasil no séc.XIX. In: Revista de Cultura Açoriana. Lisboa, Ano I, nº1, 1989, p.53 – 64.
MARQUES, Lílian Argentina B. e Outros. Rio Grande do Sul: Aspectos do Folclore. Porto Alegre, Martins Livreiro Ed., 1989. 178p. Ilustradas.





segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ilha Terceira

Brincando e Aprendendo

 Em se tratando dos 260 anos do povoamento açoriano no Rio Grande do Sul faz-se necessário o resgate e a preservação da cultura açoriana em nosso cotidiano, iniciando pelo modo como as crianças em diferentes faixas etárias brincam e a concepção que têm sobre o brincar, desconhecendo quão prazeroso é interligar esse brincar ao aprender. Faz-se necessário levá-las a conhecer diferentes possibilidades em relação a lúdica açoriana.
Muitas vezes a criança não brinca por não ter com quem interagir, ou acaba por brincar sozinha não sabendo o quanto é saudável e prazeroso este ato na construção do conhecimento, no seu desenvolvimento e na valorização da infância. Pois ao se divertirem as crianças aprendem a se relacionar com os colegas e descobrem o mundo a sua volta. Daí a importancia e o papel da escola em proporcionar espaços para atividades lúdicas tanto na sala de aula quanto fora dela, visando o resgate e a preservação da herança cultural açoriana no contexto sócio-cultural em que está inserida.